Estudo sobre os sistemas de apoio, proporcionado ao aluno com perturbações da linguagem verbal na direcção regional do alentejo

  1. monteiro santos roupa, maria aurelia
Dirigida por:
  1. Tomás Sola Martínez Director/a
  2. Antonio Moreno Ortiz Codirector/a
  3. Juan Antonio López Núñez Codirector/a

Universidad de defensa: Universidad de Granada

Fecha de defensa: 26 de marzo de 2012

Tribunal:
  1. María Concepción Domínguez Garrido Presidente/a
  2. Inmaculada Aznar Díaz Secretario/a
  3. Ascensión Palomares Ruiz Vocal
  4. José Manuel Bautista Vallejo Vocal
  5. José Cardona Andújar Vocal

Tipo: Tesis

Resumen

Ao longo do meu percurso profissional, consciencializei-me de que as alterações da linguagem verbal constituem uma das causas do insucesso escolar dos alunos afectados por estas dificuldades, sendo uma das problemáticas que se colocam à escola e aos professores. É inquestionável que o papel da educação é fundamental, tanto na identificação e caracterização destes problemas, como na justificação dos processos educativos adequados às necessidades daí decorrentes, com a formação ou colocação de profissionais nesta área. A realização desta investigação teve como objectivo geral conhecer qual a resposta dada, pelos professores do 1º ciclo do ensino básico, aos alunos com alterações de linguagem verbal, no contexto escolar, e realizou-se em algumas escolas/Agrupamentos da Direcção Regional de Educação do Alentejo. Assim, como objectivos específicos, que estão intimamente relacionados com o objectivo geral, foram definidos os seguintes: conhecer o perfil, assim como a formação inicial e contínua dos professores do 1º ciclo do ensino básico, em exercício de funções nos Agrupamentos aceitantes para atender os alunos com alterações de linguagem verbal; identificar e caracterizar o perfil da criança com alterações de linguagem verbal, no 1º ciclo, dos referidos Agrupamentos; analisar com os professores do 1º ciclo do ensino básico, colocados nesses Agrupamentos, se o currículo aplicado aos alunos com alterações de linguagem verbal é o adequado; verificar os sistemas de apoio proporcionados aos alunos com alterações de linguagem verbal, colocados nos Agrupamentos estudados. Relativamente à fundamentação teórica, analisámos o processo de aquisição da linguagem, um tema complexo e amplo, com especial destaque para a sua aprendizagem, componentes e desenvolvimento. Com um papel fundamental no desenvolvimento global do ser humanos, esta aquisição nem sempre se processa naturalmente, podendo existir dificuldades nomeadamente ao nível dos centros cerebrais, órgãos respiratórios e de fonação que, se não forem ultrapassadas, afectarão a sua inclusão social e a comunicação. A aquisição da linguagem tem a ver com três factores: maturação física, desenvolvimento cognitivo e socialização. No entanto, o contributo particular de cada factor neste processo não obteve ainda consenso por parte de todos os linguistas, sendo várias as teorias que o tentam explicar. Cada uma destas teorias olha o desenvolvimento da linguagem de um ponto de vista específico e todas, no seu conjunto, fornecem uma explicação mais rica, variada e globalizante que ajuda a compreender melhor este tema. Passando em seguida às alterações de linguagem, este estudo centrou-se especificamente na dislalia, que surge com frequência na escola e cuja terapêutica poderá encontrar-se no âmbito das competências do professor. Outras alterações da linguagem poderão aparecer na criança, no entanto, estas encontram-se fora do âmbito educacional, correspondendo à neurologia. Há vários conceitos e classificações da dislalia, que variam consoante os seus autores, convergindo, no entanto, quanto ao conceito de que a mesma é uma das anomalias da linguagem e que, dentro das alterações desta, é uma das mais favoráveis, sendo o seu tratamento precoce fundamental para evitar consequências na sua personalidade, bem como na sua capacidade comunicativa e na sua adaptação social. Quanto à avaliação e intervenção nas perturbações da linguagem verbal, a primeira é o início do processo para conseguir uma adequada intervenção nessas perturbações. Só após análise das características de cada indivíduo, serão escolhidas as estratégias e programas adequados, de forma a traçar o plano de acção de acordo com o diagnóstico. Os aspectos a serem avaliados através dos principais processos de linguagem e comunicação, são aspectos anatómicos e funcionais, dimensões da linguagem, processos linguísticos e desenvolvimento cognitivo. Os problemas de linguagem na criança têm suscitado interesse, surgindo um grande número de publicações que visam incrementar linhas de intervenção que poderiam desenvolver a linguagem de forma a compensar a criança com alterações linguísticas. A maioria destas estratégias de intervenção é dirigida aos processos da comunicação verbal, mais concretamente ao desenvolvimento da linguagem expressiva, à articulação, à sintaxe e ao vocabulário falado. Numa abordagem às competências linguísticas e ao currículo, foram analisadas as metas para o términus do 1º Ciclo do ensino básico, a noção de currículo e as adaptações curriculares indispensáveis, de acordo com os problemas divulgados pelos professores. O currículo contempla a definição de competências por ciclo, tendo esta como objectivo demonstrar a importância do percurso escolar do aluno. As adaptações curriculares surgem na escola como uma solução educativa alternativa ao currículo pré-definido e poderão culminar, ou não, num programa individual. Cabe aos professores recorrer a materiais e técnicas que permitam uma intervenção eficaz, de forma a responder às necessidades individuais dos alunos, em especial os que apresentem perturbações da linguagem verbal, ou o seu encaminhamento para um apoio especializado. No que concerne à parte prática deste estudo, a mesma contemplou as seguintes fases: clarificação do problema, metodologia da investigação e trabalho de campo. Foi utilizada uma metodologia mista sendo que o material quantitativo foi os inquéritos passados aos docentes do 1º ciclo do ensino básico e o material qualitativo consistiu em entrevistas aos Directores Executivos e em grupos de discussão constituídos pelos docentes já referidos. Relativamente aos inquéritos, para analisar a consistência interna de cada um dos construtos, utilizaram-se os valores do alfa de Cronbach, bem como uma análise de componentes principais para estudar a estrutura de correlações existentes entre os indicadores de cada conceito. Estes valores, obtidos para os dois construtos (grau de apoio e adequação do currículo) são superiores a 0,8, o que indica que a consistência interna é muito boa e, portanto, das respostas fornecidas pelos inquiridos. A amostra aceitante foi constituída pelos professores que leccionam o 1º ciclo do ensino básico nos seguintes Agrupamentos: Agrupamento de Escolas nº 1 de Elvas; Agrupamento de Escolas nº 2 Mário Beirão, de Beja e Agrupamento de Escolas de Grândola. Os Agrupamentos de Escolas seleccionados para a amostra aceitante pertencem todos, como foi anteriormente referido, à mesma Direcção Regional, a concelhos com características diferentes, a nível geográfico, físico e demográfico. Realizámos também entrevistas à gestão dos agrupamentos de escolas pertencentes a Direcção Regional do Alentejo(DREALE) e formámos um grupo de discussão, que funcionou como elo de ligação entre a metodologia quantitativa e qualitativa. Os resultados obtidos nestes Agrupamentos sugerem algumas conclusões gerais, que serão transversais a outros e ao sistema de ensino nacional. Destacam-se as seguintes conclusões: os recursos disponíveis são insuficientes; são os professores do ensino regular que, essencialmente, sinalizam os alunos com alterações de linguagem verbal, procuram adaptar os currículos a estes alunos e, na medida do possível, adoptar algumas estratégias para minimizar o problema; o apoio da escola/Agrupamento é muito insipiente e insuficiente, tanto ao nível dos recursos humanos especializados como dos físicos e financeiros; existe pouca formação nesta área não tendo, por isso, a maior parte dos professores, conhecimentos especializados para lidar com estes alunos e com esta problemática em particular. Em resumo, os resultados sugerem que esta é uma problemática que é tratada nas escolas e agrupamentos de uma forma ainda embrionária, com poucos apoios a todos os níveis, sendo necessária uma maior intervenção dos vários agentes educativos no sentido de se tomarem medidas que possam melhorar a situação. Como área prioritária de intervenção, considera-se que a formação nesta área seria uma boa medida para minimizar muitos dos problemas com que as escolas se deparam a este nível. Relativamente ao primeiro objectivo específico, já anteriormente referido, concluíu-se que os docentes são maioritariamente do sexo feminino, licenciados, com mais de 36 anos de idade, mais de 10 anos de experiência profissional e com turmas com cerca de 18 a 20 alunos ou 24 a 25 alunos e que existe baixa formação dos professores para lidar com alunos que apresentam perturbações da linguagem verbal, que o fenómeno é frequente em alunos da região e que uma grande maioria dos professores não adopta estratégias adequadas para lidar com estes alunos. No segundo objectivo, os resultados permitiram concluir que é o professor do ensino regular o principal meio de sinalização das perturbações e de encaminhamento dos alunos para ajuda especializada, que as causas das alterações são funcionais e do domínio fonético, que estas atingem em maior número os rapazes e que existem também mais alunos com alterações fonéticas em comparação com o número de alunos com alterações semânticas, pragmáticas e morfossintácticas. Na opinião dos professores, o ambiente familiar e escolar são responsáveis pelo aparecimento das alterações de linguagem verbal, no entanto, atribuem ao primeiro um papel mais significativo. Consideram ainda que a influência familiar mais negativa é a falta de estimulação por parte dos pais e que as influências escolares mais negativas são o apoio insuficiente da escola e a sua falta de preparação para lidar com estes alunos. Quanto ao terceiro objectivo, este pretendia estudar até que ponto é adequado o currículo aplicado aos alunos com alterações de linguagem verbal. Concluiu-se que os professores procuram fazer essa adequação e que, para a fazerem utilizam frequentemente várias das estratégias apresentadas. Apesar da referência à utilização destas estratégias, os professores reconhecem a sua falta de conhecimento relativamente às adaptações individuais que devem fazer para estes alunos e a insuficiência do tempo semanal que disponibilizam a este tipo de crianças. Reconhecem ainda que a adequação dos recursos e materiais da escola a alunos com estas perturbações não é suficiente. Considerando o quarto objectivo, relativo aos sistemas de apoio, os resultados obtidos indicam que existe uma percepção negativa sobre os apoios fornecidos, pela escola ou Agrupamento, aos alunos com alterações de linguagem verbal. Estes não existem ou, quando estão presentes, são considerados insuficientes ou ineficazes não existindo pessoal especializado suficiente para lidar com estas crianças, nomeadamente psicólogos e terapeutas da fala. Considera-se também que o apoio aos alunos por entidades externas é pouco frequente, utilizado por um número reduzido de alunos, em sessões de curta duração e que a cooperação entre a escola/Agrupamento e as entidades externas é deficiente. Relativamente ao apoio que os professores recebem da escola ou Agrupamento, este também é avaliado negativamente considerando-se que a formação é insuficiente ou até mesmo inexistente. Existe pouca confiança no aconselhamento dado pela escola e os professores sentem-se insatisfeitos com o mesmo. Verifica-se ainda que os recursos financeiros disponíveis não existem ou são insuficientes, o que sugere um reduzido investimento do sistema educativo nesta problemática. Partindo dos resultados obtidos, e de acordo com as respectivas conclusões, as estratégias apresentadas como forma de minimizar os problemas existentes são as seguintes: - Desenvolver e implementar acções de formação especializadas nesta área para os professores do ensino regular; - Aumentar o número de especialistas nas escolas/Agrupamentos com a colocação de mais terapeutas da fala e de psicólogos, agilizando-se o processo de recrutamento; - Melhorar a continuidade dos técnicos no Agrupamento, de modo a que estes possam acompanhar durante mais tempo os alunos que já conhecem; Desenvolver acções de sensibilização de toda a comunidade educativa para esta problemática; Apostar no desenvolvimento de centros de recursos materiais e informáticos universais; - Aumentar o envolvimento dos órgãos de gestão das escolas/ Agrupamentos nos processos de planeamento e definição de políticas ao nível desta problemática. A necessidade de disseminar acções de formação para os professores é substancial e deve ser acompanhada de actividades de comunicação, devidamente programadas, que permitam motivar e captar os professores para a frequência das mesmas. Com esta estratégia melhora-se a percepção dos professores sobre o sistema de apoio e gera-se uma dinâmica que permite desenvolver e aperfeiçoar o sistema de apoio aos alunos com alterações da linguagem verbal. Como linhas de investigação futuras, poderíamos pensar na aplicação desta metodologia a outras zonas do país de modo a ser possível compara a incidência desta problemática e verificar se a persistência do problema é idêntica à que se observou neste estudo. Outra linha de investigação poderá passar por uma extensão do estudo a alunos de 2º e 3º ciclo do ensino básico, podendo fazer-se estudos comparativos tendo em atenção a idade da criança. Poderá ainda ser interessante a realização de um estudo mais aprofundado das causas que levam a esta problemática na região estudada e em outras regiões do país ou desenvolver-se um outro estudo em que se entrevistassem as crianças e os pais para conhecer o que pensam do sistema educativo a este nível e a sua satisfação com o mesmo. Finalmente, também seria relevante o desenvolvimento de um estudo longitudinal que permitisse medir a incidência ao longo do tempo.