Comprometimento em contexto educativoestudo empírico sobre a influência da dimensão do agrupamento de escolas no comprometimento organizacional dos docentes do concelho do porto

Resumen

A presente dissertação trata do comprometimento organizacional (organizational commitment) em contexto educativo. As questões teóricas e práticas que esta temática suscita, assim como os desafios que se colocam à investigação empírica neste domínio, são aqui objecto de estudo. A partir da década de 50, o comprometimento organizacional tem vindo a apresentar-se como uma área de grande interesse, a avaliar pela crescente quantidade de publicações que tem vindo a focalizar este constructo. Em termos conceptuais, este constructo surgiu apoiado em disciplinas como a Sociologia, a Psicologia e a Economia, constituindo-se como uma área de investigação centrada sobre o comprometimento dos indivíduos, relativamente às organizações a que pertencem. Por se tratar de um conceito que, ao longo dos anos, tem vindo a ser definido e medido das mais diversas formas, verifica-se uma certa falta de consenso quanto à sua definição e à natureza do vínculo que se estabelece entre os colaboradores e as organizações, factor que tem contribuído para que vários autores defendam a necessidade de uma investigação mais profunda desse mesmo vínculo, bem como das dimensões do comprometimento em causa (Mathieu & Zajac, 1990; Meyer & Allen, 1997; Mowday, 1998). Deste modo, e no que se refere à dimensionalidade do conceito, os modelos que integram mais do que um componente têm ganho algum destaque, contribuindo para que, tendencialmente, o mesmo seja percepcionado como multidimensional.Contudo, e apesar da diversidade de conceptualizações, a generalidade dos autores que se dedica ao estudo do comprometimento organizacional, entende tratar-se de uma força que promove, estabiliza ou obriga a determinados comportamentos (Angle & Perry, 1981, 1983; Becker, 1960; Buchanan, 1974; Kelman, 1958; Mathieu et al., 1990; Meyer & Allen, 1984, 1986, 1987, 1988, 1991, 1997; Mowday, Porter & Steers, 1982; O' Reilly & Chatman, 1986;Wiener, 1982, 1988). Neste contexto, e apesar de ser um conceito que se vem apresentando sob as mais diversas formas, parece influenciar o bem-estar dos indivíduos dentro das organizações e, consequentemente, contribuir para a promoção da eficácia destas últimas (Meyer & Herscovitch, 2001). Por sua vez, Mathieu et al. (1990) efectuaram uma revisão da literatura sobre comprometimento organizacional e concluíram que, quer as várias definições existentes, quer as diferentes medidas de avaliação, apresentam em comum o conceito de "vínculo", quando se referem à ligação estabelecida entre as pessoas e a organização onde intervêm. Neste contexto, e uma vez que o nosso estudo tem como principal objectivo avaliar o comprometimento organizacional em contexto educativo, procuraremos estudar qual o vínculo existente entre docentes e os agrupamentos de escolas a que estes pertencem. Neste sentido, e porque o objectivo da nossa investigação consiste no estudo da influência da dimensão do agrupamento de escolas no comprometimento dos docentes que o integram, torna-se imperioso analisar as profundas alterações que, nos últimos anos, se têm feito sentir a vários níveis, económico, social, cultural e, sobretudo, demográfico, e as consequências desta realidade na reorganização da rede escolar. Constitui esta a principal causa da actual existência de agrupamentos de pequena e grande dimensão, gerados pelas assimetrias que o território português, nos últimos anos, tem apresentado, devido ao declínio do número de alunos, sobretudo da Educação Pré-escolar e do 1º Ciclo do Ensino Básico e que, face aos novos contornos da organização escolar, físicos e administrativos, têm conduzido à emergência de um conjunto de reformas e políticas que visam avaliar esta nova realidade. Assumindo o que acaba de ser dito como ponto de partida para o percurso que nos propomos efectuar, ou seja, atendendo a que, conceptualmente, o comprometimento organizacional contribui para o estabelecimento de relações vinculativas entre os indivíduos e as organizações em que estes trabalham, o presente trabalho visa averiguar se as referidas relações que se estabelecem entre os docentes e o seu agrupamento de escolas são, empiricamente, sustentáveis. Com base neste pressuposto, estabelecemos para o nosso estudo o seguinte objectivo: Aprofundar o conhecimento acerca da influência que a dimensão dos Agrupamentos de Escolas do Concelho do Porto exerce no comprometimento organizacional dos docentes que os integram. Neste entendimento, procurámos, igualmente, averiguar a influência que um conjunto de variáveis, designadamente, organizacional (dimensão do agrupamento) e individuais (profissionais e pessoais), exerce na referida relação, promovendo a emergência (ou não) de comprometimento nestes sujeitos. A tese organiza-se em torno de duas grandes partes: a primeira apresenta o enquadramento teórico/conceptual da dissertação e a segunda integra a metodologia adoptada, apresentação, análise e discussão dos resultados obtidos. O Capítulo I tem como principal objectivo a análise do ordenamento da rede educativa, sob a forma de agrupamentos de escolas, bem como os princípios que estão na génese destas organizações escolares: a autonomia, a descentralização, a territorialização e a participação da comunidade educativa na educação e ensino. As diversas formas de associação entre escolas que, ao longo dos anos foram surgindo, com o objectivo de encontrar respostas a problemas concretos que emergiam no âmbito da rede escolar, nomeadamente, os Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (T.E.I.P.), as Escolas Básicas Integradas (E.B.I.) e os agrupamentos horizontais e verticais são, igualmente, objecto de análise do nosso estudo. Seguidamente, o Capítulo II tem como objecto de enfoque o processo do reordenamento da rede escolar. A rápida evolução e transformação da sociedade tornaram imperativa a actualização das estruturas educativas e das organizações escolares. Deste modo, e uma vez que a rede da Educação Pré-escolar e do 1º Ciclo foi alvo de um conjunto de alterações, conduzindo, por um lado à existência de escolas isoladas, com médias baixas de população discente, e por outro à existência de escolas sobrelotadas, sem espaço físico compatível com o horário normal de funcionamento dos estabelecimentos de ensino, a reestruturação da rede escolar assume-se como condição indispensável ao sucesso educativo. Nesta abordagem é, igualmente, importante ter em conta a participação dos municípios, através do Conselho Municipal de Educação (C.M.E.), órgão de participação da comunidade educativa, responsável pela criação da carta educativa, enquanto instrumento de planeamento e ordenamento de edifícios e equipamentos de um concelho. Posteriormente, no Capítulo III procuramos clarificar o conceito de organização e sua conexão com a Escola, enquanto organização escolar, bem como apresentar um conjunto de teorias organizacionais, relacionado com este constructo. Também a este respeito, revimos a literatura da especialidade, procurando obter uma maior clarificação conceptual. No que concerne ao conceito de organização, realçamos o contributo teórico de alguns autores (Chiavenato, 1991, 1998; Cunha, Rego, Cunha & Cardoso, 2004; Cushway & Lodge, 1993; Greenberg, 1998; Moura, 1991) cujos estudos nos permitiram uma mais clara delimitação dos seus contornos. Posteriormente, baseando-nos, sobretudo em Costa (1998) e Nóvoa (1992), reflectimos sobre a Escola enquanto organização. No Capítulo IV abordamos o conceito de comprometimento na sua generalidade, considerando-o como algo que une ou amarra o indivíduo a alguma coisa (Bastos, 1994), debruçando-nos, ainda, sobre o comprometimento em contexto organizacional. Para além de focalizarmos a posição de diversos autores, relativamente a este constructo, consideramos que existem determinados factores que podem catalisar ou condicionar o seu desenvolvimento. Conscientes da existência de uma grande variedade de factores, optámos por reflectir, apenas, sobre os seguintes: justiça organizacional, motivação e satisfação com o trabalho. A investigação, a este nível realizada, permitiu também, identificar modelos conceptuais que integram somente um componente do comprometimento organizacional, ou seja, os unidimensionais (Becker, 1960; Mowday, Steers & Porter, 1979), e aqueles que integram mais do que um componente e que correspondem aos multidimensionais (Gouldner, 1960; Kelman, 1958; Meyer & Herscovitch, 2001; O¿ Reilly & Chatman, 1986;). Neste âmbito, é também dada particular atenção às características organizacionais que actuam como antecedentes e consequentes do comprometimento organizacional. A Segunda Parte, dedicada ao Estudo Empírico, inicia-se com o Capítulo V, onde se explicitam os objectivos que nortearam a realização da investigação desenvolvida e se dá conta da metodologia nela adoptada. Nele formulamos o problema a investigar, caracterizamos a amostra estudada, damos conta da forma como estabelecemos contacto com as organizações, bem como do procedimento adoptado no que respeita à administração dos questionários e à realização das entrevistas. Ainda neste capítulo, referimo-nos aos instrumentos de recolha de dados, o questionário, no âmbito da investigação quantitativa e a entrevista como método qualitativo. No Capítulo VI procedemos à análise dos resultados obtidos nesta investigação. Assim, num primeiro momento efectuamos a análise descritiva de todas as dimensões em estudo, de forma a conhecermos a amostra. Num segundo momento, através de técnicas de estatística inferencial, procuramos verificar a existência de diferenças, estatisticamente, significativas entre dimensões. No Capítulo VII apresentam-se os resultados obtidos com as análises diferenciais realizadas aos dados recolhidos com o ASH-ICI e com as entrevistas. O estudo da influência de um conjunto de dimensões no comprometimento dos docentes, em relação ao agrupamento a que pertencem, constitui o objectivo central deste capítulo. As dimensões independentes consideradas foram: uma dimensão organizacional, relativa à dimensão dos agrupamentos de escolas, quatro dimensões individuais, relativas a aspectos de natureza pessoal (residência com a família, distância escola-casa, idade e género) e cinco dimensões referentes a questões de natureza profissional (habilitações académicas, situação profissional, tempo de serviço, tempo de serviço no agrupamento e nível de ensino que lecciona). No Capítulo VIII, último do presente trabalho, apresentamos uma síntese das principais conclusões obtidas na investigação realizada e, ainda, um conjunto de propostas de melhorias que permitam tornar inteligíveis preceitos e paradigmas instituídos no âmbito desta temática.